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Pesquisadores da UFPE registram jacaré-de-papo-amarelo selvagem predando tilápia do Nilo em área urbana do Brasil pela primeira vez

O registro inédito aconteceu no Riacho do Cavouco, próximo à Biblioteca Central, no Campus Recife da UFPE

Pesquisadores do Programa de Pós-Graduação em Biologia Animal (PPGBA) do Centro de Biociências (CB) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) registraram, pela primeira vez, um jacaré-de-papo-amarelo selvagem predando uma tilápia do Nilo em uma área urbana do Brasil. O registro inédito aconteceu no Riacho do Cavouco, próximo à Biblioteca Central, no Campus Recife da UFPE, ambiente onde essa espécie de jacaré é comumente vista, mas em que esse peixe não é nativo. O relato está publicado na revista Herpetology Notes (vol. 18, 2025), divulgada no dia 15 deste mês.

Trata-se de um jacaré adulto, medindo cerca de um metro de comprimento (desconsiderando a cauda), o qual, no dia do registro (21 de março de 2024), aquecia-se em uma área rasa do riacho. Após 15 minutos, o animal moveu-se em direção a um peixe na margem oposta do riacho, a cerca de 15 metros de distância. O peixe capturado pelo jacaré foi identificado pelos pesquisadores como uma tilápia do Nilo com base em características visuais, como a forma arredondada das regiões dorsal e anal, as barbatanas caudais com ligeira retidão, a presença de manchas verticais laterais escuras, entre outras.

“Este registro é importante, pois mostra que uma espécie exótica e potencialmente invasora (que pode competir com espécies nativas) pode fazer parte da dieta dos jacarés e evidencia o papel destes animais na cadeia trófica e na manutenção dos ecossistemas, potencialmente controlando populações de animais danosos aos habitats em que foram inseridos, no caso, no Brasil”, disse Paulo Mascarenhas Júnior, pós-doutorando no PPGBA e um dos autores do artigo “Predation of non-native Nile Tilapia, Oreochromis niloticus (Linnaeus, 1758), by an adult Broad-snouted Caiman, Caiman latirostris (Daudin, 1801), in an urban stream in northeastern Brazil”, que está na Herpetology Notes. O trabalho também é assinado por Camila de Araújo (doutora pelo PPGBA) e Edson Silva Júnior (mestrando em Biologia Animal). Os pesquisadores acreditam ainda que o evento registrado deve ser relativamente comum, mas o hábito críptico dos jacarés (animais que vivem escondidos) dificulta o registro desse fato com mais frequência, o que demonstra a importância da publicação.

Segundo Mascarenhas Júnior, a presença da tilápia no Riacho do Cavouco não é natural e pode ser explicada principalmente pela intervenção humana. “A tilápia é um peixe comumente criado na piscicultura para o comércio, e muitos espécimes acabam escapando dos tanques ou sendo soltos em rios e riachos locais, se espalhando e se adaptando bem. A espécie parece ser muito tolerante a gradientes de poluição e eutrofização, se estabelecendo em rios urbanos no Brasil e outros países do mundo”, explicou.

A inclusão da tilápia na dieta dos jacarés pode sinalizar alterações em ecossistemas naturais e possíveis mudanças na composição das espécies, mas ainda não há evidências sobre os reais impactos da predação da tilápia ou outros animais exóticos por jacarés no Brasil. Em outros países, já surgem relatos científicos mais avançados sobre o assunto. “Na Índia, o declínio em algumas populações de gaviais (uma espécie de crocodiliano) tem sido atribuído à ingestão de tilápias com alto teor de contaminação acumulada em seus corpos”, exemplificou Mascarenhas Júnior.

REGISTRO - O registro da predação da tilápia do Nilo por um jacaré-de-papo-amarelo no trecho do Riacho do Cavouco que passa pelo Campus Recife da UFPE foi feito de forma inesperada. “Quando soube que tinha um jacaré tomando sol no riacho do Cavouco, fui até o local com os outros autores [do artigo] para ver o animal e fazer alguns registros fotográficos, estimativa de tamanho e coletar a localização geográfica. Nesse momento, o jacaré realizou o comportamento de captura da presa, e nós registramos o passo a passo do ocorrido”, comemorou Mascarenhas Júnior, que trabalha com populações de jacarés em Pernambuco, incluindo animais que aparecem no Campus Recife da UFPE e em contexto urbano, há 12 anos.

Date of last modification: 20/01/2025, 14:09