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Livro “O Pão e o Sonho: vida e obra do escultor Armando Lacerda”, de autoria de professor da UFPE, é lançado no Centro Cultural Benfica

A obra escrita pelo professor Carlos Newton Júnior será compartilhada com o público amanhã (13) às 19h

O lançamento do livro “O Pão e o Sonho: vida e obra do escultor Armando Lacerda”, de autoria do professor Carlos Newton Júnior, do Departamento de Artes da UFPE, acontecerá amanhã (13), às 19h, no Centro Cultural Benfica (R. Benfica, 157), um equipamento cultural da Superintendência de Cultura (Supercult) da UFPE. A obra resgata a trajetória de Armando Lacerda, artista essencial para a escultura moderna de Pernambuco e criador de obras populares da Região Nordeste, como padre Cícero, em Juazeiro do Norte (CE), e Monumento a Ludugero e Otrope, em Caruaru (PE) e um dos principais escultores modernistas de Pernambuco, muitas vezes, esquecido pela história. Antes da sessão de autógrafos, haverá um bate-papo entre o autor e o professor Anco Márcio Tenório Vieira, do Departamento de Letras da UFPE, e uma exposição fotográfica de peças do escultor existentes no Recife.

Carlos Newton Júnior, escritor do livro, também é poeta, ensaísta, ficcionista e professor titular da UFPE. Entre as obras que publicou, os mais recentes são “Ressurreição: 101 sonetos de amor” (2019), “Memento mori: os sonetos da morte” (2020), “Coração na balança” (2021), “Vontade de beleza” (2022) e “Redenção de agosto” (2023), todos pela Nova Fronteira. A lista de títulos organizados inclui, pela mesma editora, o Teatro Completo de Ariano Suassuna (Nova Fronteira, 2018), em quatro volumes, e o box com dois livros da edição comemorativa dos 50 anos do Romance d’a Pedra do Reino e Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta, também de Ariano Suassuna.

OBRAS - Dois pontos unem as esculturas de padre Cícero, em Juazeiro do Norte (CE), a Cabeça de Ascenso Ferreira, no Recife (PE), e o Monumento a Ludugero e Otrope, em Caruaru (PE). Além de homenagear figuras relevantes da cultura nordestina, as peças foram elaboradas pelo recifense Armando Lacerda, com centenário de nascimento celebrado neste ano. A trajetória do artista, praticamente esquecida no estado e no país, é contada em “O pão e o sonho: vida e obra do escultor Armando Lacerda” (Cepe Editora, 2024), de Carlos Newton Júnior. 

Frente à qualidade das obras e o que há escrito sobre o escultor, Carlos Newton classifica Armando Lacerda (1924-1980) como um artista injustiçado historicamente. “Armando foi um dos pioneiros da escultura moderna em Pernambuco, ao lado de Abelardo da Hora (1924-1914) e Corbiniano Lins (1924-2018), os três nascidos no mesmo ano: 1924”, pontua. No entanto, segundo o autor, a obra de Armando é comparativamente menos extensa do que as dos seus contemporâneos. “Não só porque ele não foi artista em tempo integral, mas também porque o destino não lhe concedeu a longevidade dos outros dois, falecidos na casa dos 90 anos”. 

TRAJETÓRIA - O autor, professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), dedicou cerca de dois anos à pesquisa e à escrita de “O pão e o sonho”. O resultado é um título de 180 páginas, nove capítulos, uma síntese cronológica da vida e obra de Armando, um depoimento dele ao pintor José Cláudio (1932-2023) em 1978 e uma galeria de fotos, além da apresentação assinada pelo professor Anco Márcio Tenório Vieira. Para este, o livro busca corrigir um dos maiores silenciamentos que um artista já sofreu no país. “Estranho silenciamento, já que algumas das suas obras continuam a pulsar no imaginário daqueles que habitam o Nordeste e, por extensão, o Brasil.” 

Ao pesquisar, Carlos Newton constatou a escassez de informações sobre Armando Lacerda. Os dados existentes, segundo ele, “resumem-se, praticamente, àquilo que ficou registrado nos jornais, bem como na memória dos seus filhos, sobretudo a do primogênito”. Armando teve seis filhos, sendo Alexandre Azêdo Lacerda o mais velho e responsável pela guarda do acervo documental do pai. Para preencher as lacunas históricas, o autor recorreu a este acervo, a jornais e revistas da coleção digital da Biblioteca Nacional; aos arquivos da Escola de Belas Artes de Pernambuco, que pertencem à UFPE; e ainda à sua biblioteca particular. 

O livro revela que a paixão de Armando pela escultura vem da infância e ganhou contornos profissionais com sua entrada, aos 16 anos, na Escola de Belas Artes, onde foi aluno de Casemiro Corrêa, Baltazar da Câmara e Murillo La Greca. No entanto, ele abandonou o curso antes do término, no terceiro ano. “O ambiente artístico da Escola de Belas Artes, passada a euforia inicial, já não lhe entusiasmava tanto. O naturalismo idealizado, de viés indiscutivelmente neoclássico, ainda cultuado pelos acadêmicos como o único caminho para a obtenção de um resultado artístico satisfatório, não lhe dizia muita coisa”, argumenta o autor. 

Armando deixou a escola, mas continuou dedicado ao ofício. Apesar disso, nunca conseguiu sobreviver da arte. Os anos de 1950, conforme Carlos Newton, foram os que Armando mais se esforçou para tentar viver do seu trabalho artístico. Ele participou de vários salões de arte do Museu do Estado, tornando-se um dos escultores mais premiados do seu tempo e com o nome bastante citado e elogiado nos jornais recifenses. Entre as peças vencedoras estão o Pescador (1950), Busto e Cabeça de vaqueiro (1952) e Cabeça (1951). Em 1954, ganhou o primeiro lugar com o Cangaceiro, acervo da UFPE e exposta no Centro de Artes e Comunicação (CAC).

Com ganhos insuficientes na arte para manter a família, o escultor exerceu outra atividade. Já em 1954, era representante comercial da fábrica de bebidas Cinzano, função que o levou a percorrer outros estados. Nas andanças, em 1967, surgiu o convite para erguer aquela que seria sua maior obra, a estátua do padre Cícero Romão Batista (1844-1934), inaugurada em 1969, em Juazeiro do Norte (CE). 

Quando pronta, a escultura era a segunda mais alta do Brasil, com 25 metros de altura, sendo 17 metros da estátua e 8 metros do pedestal. Ficava atrás somente do Cristo Redentor, no Rio de Janeiro, de 38 metros. Destes, 30 eram da imagem. Desde a inauguração, a estátua se tornou um atrativo religioso e turístico. A Secretaria de Turismo do Ceará estima que, por ano, cerca de 2,5 milhões de pessoas visitem o monumento. Apesar disso, resume Carlos Newton, elas pouco ou nada conhecem sobre Armando Lacerda.

Data da última modificação: 12/11/2024, 14:22