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Atividade humana aumenta concentração de elementos químicos em florestas em regeneração de Pernambuco
Entre municípios avaliados, Igarassu apresentou maiores diferenças de elementos químicos entre as áreas madura e em regeneração
Por Eliza Brito
A região da Zona da Mata de Pernambuco é a mais afetada em termos de concentração de elementos químicos em seus solos e plantas. A constatação foi realizada pela engenheira agrônoma Juscélia Ferreira, na tese de doutorado “Elementos Químicos em Solos e Plantas de Florestas Tropicais com Diferentes Tempos de Regeneração em Pernambuco”, defendida no Programa de Pós-Graduação em Tecnologias Energéticas e Nucleares (Proten) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), em fevereiro deste ano. O trabalho teve orientação da professora Ana Dolores Santiago de Freitas, do programa de pós-graduação, e coorientação do professor Paulo Ivan Fernandes Junior, pesquisador da Embrapa Semiárido.
Juscélia Ferreira explicou que os elementos químicos avaliados no solo apresentaram concentrações mais elevadas na floresta em regeneração de Igarassu, “uma herança do cultivo de cana-de-açúcar nessas áreas, onde, por muitos anos, aplicaram-se grandes quantidades de adubos e fertilizantes que apresentam esses elementos na sua composição”, enfatizou. No Araripe, confirmou-se a pobreza nutricional dos solos da região, com baixas concentrações de nutrientes como cálcio, magnésio, potássio, fósforo e enxofre, sendo essas baixas concentrações associadas à origem desses solos, oriundos de sedimentos antigos, muito intemperizados. “Por outro lado, em Serra Talhada esses elementos estão bem presentes, são solos de formação recente, ainda pouco intemperizados, ou seja, solos ricos em materiais primários e, por estarem sujeitos a menos chuvas, passam parte do ano secos, resultando em menores perdas desses elementos nessas áreas”, disse a pesquisadora. A engenheira agrônoma explicou, ainda, que os resultados encontrados nos solos refletiram nas concentrações nas folhas da vegetação dessas florestas.
O objetivo do trabalho foi conhecer as concentrações de elementos químicos em amostras de solo e de folhas em fragmentos de vegetação nativa com diferentes tempos de regeneração no estado. Pernambuco tem grande diversidade de tipos de vegetação, decorrentes das variações de precipitação e de condições relativas às características físicas e químicas do solo, e pouco se sabe sobre as concentrações de elementos químicos no solo e em plantas nessas áreas de florestas tropicais. Os municípios pernambucanos de Araripina, Serra Talhada e Triunfo, no Sertão; Caruaru, no Agreste; e Igarassu, no Grande Recife, foram os escolhidos para a realização da pesquisa. “São locais que apresentam condições edáficas [relativas ao solo], precipitação e, consequentemente, vegetação bem diferentes, e os pontos de amostragem se encontram na Zona da Mata, Agreste e Sertão, portanto, são locais que representam bem a diversidade que ocorre no estado”, explicou Juscélia Ferreira.
Foram analisadas amostras de solo e de folhas de espécies arbóreas coletadas em duas áreas de vegetação nativa em cada um dos cinco locais estudados, “sendo uma das áreas de floresta madura, sem histórico de intervenção antrópica [humana] e a outra área, de florestas jovens, em regeneração após intervenção antrópica”, explicou a pesquisadora. Esta metodologia foi utilizada para garantir uma boa representatividade das condições de clima, solo e vegetação encontradas em Pernambuco.
MUNICÍPIOS – Araripina tem pequenas concentrações de silício, manganês, estrôncio, cálcio e potássio, por exemplo, por apresentar solos originados de sedimentos antigos, muito intemperizados. O intemperismo é o processo de transformação das rochas, dando origem aos solos, vulgarmente chamados de terra. “Por ser um elemento que leva enorme tempo para que sua concentração seja reduzida, a menor concentração de silício, comparada aos demais locais, é um indicativo do alto grau da intemperização dos solos dessa região, confirmada também pelas maiores concentrações de ferro nas duas florestas”, esclareceu a pesquisadora. Ela destacou ainda que as baixas concentrações de cálcio e magnésio encontradas nas folhas das plantas das duas florestas de Araripina confirmaram a pobreza nutricional dos solos do local.
Serra Talhada apresentou condições totalmente contrastantes às encontradas em Araripina. “Os solos de Serra Talhada são de formação recente, ainda pouco intemperizados, estão sujeitos a menos chuvas, passando parte do ano secos. São solos rasos, ainda ricos em materiais primários, por isso apresentaram mais cálcio, potássio, manganês, estrôncio e silício e menos ferro”, explicou. Mas, assim como em Araripina, em Serra Talhada não se observaram diferenças entre as vegetações das florestas madura e em regeneração. Isso acontece porque a agricultura praticada anteriormente, onde atualmente existe a floresta mais jovem, chamada de floresta em regeneração, era de subsistência, em que geralmente não são utilizados fertilizantes, e as colheitas também contribuem muito pouco para a retirada de elementos do solo.
No caso de Igarassu, os solos apresentam concentrações de elementos químicos mais ou menos intermediárias entre as encontradas em Araripina e Serra Talhada. Comparados com os de Araripina, os solos de Igarassu têm mais silício, estrôncio, potássio e cálcio e menos ferro e vanádio, o oposto comparado aos de Serra Talhada. Juscélia Ferreira explicou que foram notadas grandes diferenças entre as áreas sob floresta madura e em regeneração. “As diferenças mais marcantes entre área madura e em regeneração foram observadas pelas concentrações de manganês, ferro, cobre, zinco, estrôncio, potássio e cálcio, maiores nas áreas em regeneração tanto no solo quanto nas plantas”, detalhou.
Os dados de cádmio, um elemento tóxico, mostram maiores concentrações na área em regeneração em Igarassu, possivelmente oriundas de adubações realizadas durante os longos anos de cultivo de cana-de-açúcar. “O fornecimento de grandes quantidades de fertilizantes fosfatados aplicados ao longo dos anos para suprir as necessidades nutricionais da cultura da cana-de-açúcar nas áreas em regeneração pode justificar as maiores concentrações desses elementos bem acima do encontrado nas áreas sob floresta madura”, identificou a pesquisadora.
A engenheira explicou que quanto às florestas localizadas em Triunfo e Caruaru, apesar da ausência de dados de solo, observaram-se concentrações de ferro mais baixas nas folhas da vegetação em Triunfo, semelhantes às concentrações de Serra Talhada. As concentrações de estrôncio, assim como as de cobre, também foram semelhantes às de Serra Talhada, provavelmente pela proximidade entre os locais. As concentrações de ferro também foram baixas em Caruaru, que apresentou concentração de cádmio próxima à encontrada em Igarassu. “Caruaru, apesar de ter solos pouco intemperizados, pode ter tido contribuições de adubos e fertilizantes nas concentrações encontradas nas folhas, principalmente a floresta em regeneração, por estar localizada na Estação Experimental do Instituto Agronômico de Pernambuco (IPA)”, defendeu Juscélia Ferreira.
EFEITOS – “Não encontramos elementos tóxicos em concentrações que estejam afetando negativamente a ‘saúde da floresta’, nos locais estudados, porém o que observamos foi o quanto a atividade antrópica expressa seus efeitos mesmo após anos de estabelecimento da floresta onde antes existia atividade agropecuária. O caso da floresta em regeneração de Igarassu é um exemplo”, afirmou a engenheira agrônoma. Ela disse, ainda, que esse tipo de estudo ajuda a entender como o clima, a vegetação, a formação do solo, além das atividades antrópicas, impactam na qualidade dos ecossistemas como um todo. “Já que se tratou de um trabalho exploratório, a ideia é que esses dados sirvam de base para a elaboração de planos e avaliação de impactos ambientais futuros. Sabendo ‘quanto’ existe fica mais fácil discutir estratégias de ‘como’ reduzir e/ou evitar possíveis impactos ambientais nessas florestas”, esclareceu a pesquisadora.
“Estudos dessa natureza devem ser continuados, pois Pernambuco, assim como a Região Nordeste, apresenta florestas tropicais cujas características são condicionadas por uma grande diversidade de solos e precipitação, que condicionam uma igualmente grande diversidade de espécies”, defendeu Juscélia Ferreira. Ela destacou a questão de como as mudanças climáticas podem interferir na modificação das composições de espécies, de acordo com a capacidade de adaptação de cada uma. “As consequências da poluição atmosférica, que podem incidir sobre áreas afastadas das fontes poluidoras, por meio de dispersão por ventos e chuvas, e a ocorrência de contaminações de solos por atividades antrópicas diversas também podem impactar os fragmentos de vegetação nativa que ainda ocorrem em Pernambuco. Desta forma, é importante destacar o pioneirismo do nosso estudo e a importância de disponibilidade de financiamentos para sua ampliação”, finalizou.
Mais informações
Programa de Pós-Graduação em Tecnologias Energéticas e Nucleares da UFPE
(81) 2126.7971
proten@ufpe.br / protenufpe@gmail.com
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Juscélia da Silva Ferreira
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