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Quem recebe carona tem cinco vezes mais chances de passar a partilhar seu próprio carro
A dissertação foi defendida por Laize Andréa de Souza Silva, no Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil da UFPE
Arte: Laize Andréa
Por Douglas Fernandes
Você já deu carona para um colega com destino ao Campus Recife da UFPE? Se você costuma estar do outro lado - de quem pega a carona -, a chance de você também retribuir a gentileza é cinco vezes maior do que a de quem nunca usufruiu desse modelo de transporte. Mais precisamente, a probabilidade aumenta em 417%, segundo verificou a engenheira civil Laize Andréa de Souza Silva na dissertação de mestrado "Carona dinâmica como medida de mobilidade sustentável em campus universitário", defendida no Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil da UFPE.
Através de questionário aplicado a alunos que frequentam a unidade recifense da Universidade e que se dirigem pelo menos uma vez na semana para o campus em veículo próprio, a autora identificou os fatores que os levam a ofertar carona e a participar de uma plataforma que auxilia na conexão entre passageiros e motoristas que possuem rotas semelhantes, além das barreiras que impedem a adesão a essa modalidade de programa de compartilhamento de transporte. Foram coletados dados sociodemográficos, de viagens e alguns fatores psicológicos que interferem nessas decisões.
Sobre a oferta de carona casual, a pesquisadora apurou que as mulheres são 55% mais abertas à possibilidade do que os homens. E que o acréscimo de um dia dirigindo na semana para a Universidade aumenta em 28% a probabilidade dessa prática. Além disso, quem tem origem/destino mais longe do campus apresenta 6% mais chance de partilhar seu carro, para cada quilômetro acrescido no trajeto. Traduzindo: quanto mais distante morar o dono ou dona do carro, maior a chance de se dispor a dividir o veículo com outra pessoa. Entre os argumentos utilizados para justificar a recusa de dar carona sem compromisso, segundo dados coletados na dissertação, está a redução da privacidade.
Além disso, o fato de ser aluno da pós-graduação impactou na queda pela metade da probabilidade de ser um ofertante de caronas. O levantamento aponta, ainda, que quanto maior o acréscimo do tempo e da distância de viagem decorrente de um desvio de rota para atender o carona, menor é a chance de ocorrer esse compartilhamento do carro. Ou seja, maiores desvios de percurso, levando o motorista a percorrer maiores trajetos, reduzem pela metade a probabilidade de oferta da carona.
Quando Laize apresentou a ideia de um sistema dinâmico de caronas aos estudantes, verificou-se que a possibilidade de conhecer um breve perfil dos usuários envolvidos aumenta em 163% a chance de adesão “porque diminui a sensação de desconhecimento do outro”. Já a possibilidade de deixar a posição de motorista para usufruir do sistema no banco do carona aumenta em uma vez e meia (148%) a chance de sucesso do programa entre os entrevistados. E mais: o desejo por interação social durante os deslocamentos amplia em 123% a chance de entrada no sistema. Segundo a pesquisa, orientada e coorientada pelos professores Maria Leonor Alves Maia e Mauricio Oliveira Andrade, ambos do Departamento de Engenharia Civil da UFPE, quem tem compromisso ou preocupação com questões ambientais está mais propício a aderir à proposta.
Entretanto, apontam os dados, a probabilidade de realizar viagens com desconhecidos reduz em 70% a chance de sucesso do sistema entre os entrevistados. As mulheres são cerca de 60% mais resistentes a utilizá-lo. Para a autora, “a carona é uma das medidas sustentáveis que visam melhoria na mobilidade, uma vez que aumenta a taxa de ocupação dos automóveis e tende a reduzir o número de carros em circulação. Atrelada a ela, existem vários fatores subjetivos, difíceis de serem mensurados, que fazem com que a pessoa use o modo ou não”, analisa.
SEGURANÇA | A implantação de um sistema de caronas pode aumentar o uso desse modo de transporte pela parte dos alunos, uma vez que 74% das pessoas que disseram não usar carona casualmente afirmaram ter interesse em participar de um programa com esse propósito. “Os sistemas de caronas aplicados a campi universitários são viáveis, apesar das inúmeras variáveis subjetivas de difícil identificação relacionadas ao carpooling (termo em inglês que significa o ato de pegar ou oferecer carona)”, explica Laize.
Segundo a especialista, para que sejam realmente efetivas, essas plataformas que fazem a conexão entre as partes interessadas precisam ser robustas e devem passar a sensação de segurança para os usuários, porque compartilhar viagem com desconhecidos é uma forte barreira para uso desses sistemas, principalmente, entre as mulheres. "Não conhecer o companheiro ou companheira de viagem é o principal desmotivador do uso dos sistemas de carona. Esse fator reduz em 70% as chances de uso de um sistema”, ressalta.
A pesquisadora avalia que os sistemas de compartilhamento de viagem de carro devem se adequar às subjetividades dos possíveis ofertantes da carona. “É necessário utilizar algumas estratégias que reduzam o medo do desconhecido, como, por exemplo, a formação de grupos exclusivos para mulheres, o uso de uma ferramenta de avaliação dos usuários, como tem no aplicativo Uber, perfis do veículo e dos usuários incluídos no sistema", afirma, e complementa: "Por incrível que pareça, a divisão de custos de viagem não é um fator muito relevante e isso provavelmente tem a ver com a renda mais elevada das pessoas que usam carro como modo de transporte”.
Laize ainda sugere a implantação, pela UFPE, de uma política de mobilidade. “É fundamental a criação de uma Política Institucional de Mobilidade Sustentável. Atualmente, o Campus Recife da Universidade é carente de um pacote de medidas que busque essa mobilidade. O estímulo ao uso da carona é apenas uma fração do conjunto de estratégias que devem ser aplicadas; ele por si só é de baixo impacto quando comparado ao transporte público de alta eficiência”, avalia.
A carona pode ajudar, mas não é uma solução completa para melhoria da mobilidade urbana, segundo a autora da dissertação. “O foco tem que ser a melhoria do transporte público. Até porque é o que atende à maioria da população e, por causa da sua baixa qualidade, as pessoas tendem a migrar para o transporte individual. E isso só piora a situação. A carona ajuda, mas nunca vai solucionar tudo”, destaca.
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Mais informações
Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil
(81) 2126.8977/7923
Laize Andréa de Souza Silva
laize.civil.upe@gmail.com